APROVAÇÃO DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO PODE DEMORAR ATÉ UM ANO

Burocracia para entrega de documentos é um dos itens que atrasam a liberação de crédito para a compra da casa própria
O boom do crédito imobiliário tornou a compra da casa própria acessível a milhões de brasileiros, mas a aprovação do financiamentos continua demorada. Houve melhora nos últimos anos, como a redução da média de documentos exigidos do comprador, vendedor e imóvel de 52 para 14, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Contudo, em casos extremos, entre o pedido e a aprovação do crédito o consumidor pode esperar até um ano.
Há vários problemas no processo de contratação do crédito por parte dos órgãos públicos, dos bancos e dos mutuários. Na esfera pública, a barreira é falta de integração de órgãos expedidores dos documentos. "Para mostrar que o vendedor não tem dívidas são três cartórios - o de protesto, da Justiça Federal e de distribuição cível. Não há um órgão centralizador das certidões negativas ou dos impostos", diz o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Octavio de Lazari Junior.


Outro problema é a falta de digitalização dos documentos. Até julho de 2014, os cartórios de registro de imóveis terão de ter sistema eletrônico, com certidões disponíveis pela internet, uniformização dos dados e compartilhamento com outros órgãos.
Nesse sentido, os bancos já estão mais avançados, dizem especialistas. Atualmente, muitos documentos são aceitos pela internet e, em algumas instituições, o contratante pode acompanhar o andamento do crédito online, o que permite perceber rapidamente se há algum entrave. "Antigamente quem não tinha renda formal ou Imposto de Renda não conseguia crédito. Hoje é aceito extrato bancário como comprovação", diz o diretor do Creci-SP, Gilberto Yoghi.
Para tornar a aprovação mais rápida, os bancos investem em tecnologia e gestão de processos. "Recentemente conseguimos aprovação em seis dias. Se toda a documentação estiver correta, creio que a média de tempo seja de 15 dias", diz o superintendente executivo de Crédito Imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges. O Banco do Brasil informa que foca em parcerias com construtoras para tentar obter proativamente a documentação do vendedor e do imóvel.
Muitas exigências. Apesar de o mercado reconhecer o avanço dos bancos, a lista de documentos cobrados ainda é considerada grande. "Não faz sentido o financiamento de automóveis, onde o risco de roubo e deterioração é maior, demorar cinco dias e o imobiliário, pelo menos 30", afirma o vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP, Flavio Prando.
No passado, a alienação fiduciária - que dá ao credor a posse do imóvel até o fim do pagamento - tornou o crédito menos arriscado aos bancos. Com isso, reduziu o nível de garantia exigida. Para Prando, contudo, ainda há espaço para desburocratização.
No caso dos compradores o principal problema está na entrega do dossiê do processo. "É importante entregar a documentação completa para não haver repetição das etapas. A cada exigência nova a pessoa vai gastar de dez a 15 dias", diz Yoghi.
Para ajudar mutuários no processo há os correspondentes bancários, pessoas jurídicas indicadas pelos bancos que recolhem documentos e auxiliam na abertura do crédito. Também há empresas especializadas em assessorar o financiamento. "Essas empresas praticamente não existiam antes do boom imobiliário", diz o criador da consultoria Canal do Crédito, Marcelo Prata. "O serviço pode ir desde uma pesquisa de mercado entre os diversos produtos disponíveis até a orientação dos documentos necessários, verificação do dossiê e preenchimento de formulários", diz o fundador da FinanciarCasa, Raphael Rottgen. O serviço é gratuito em muitas empresas, como na FinanciarCasa e no Canal do Crédito e pode variar de R$ 500 a R$ 1 mil nas empresas em que o serviço é pago.
Outra dificuldade é com o programa Minha Casa, Minha Vida. É preciso reunir um grupo de pessoas que vão financiar os apartamentos. O financiamento com o banco já começa no início da obra. O problema é que cada mutuário é avaliado em um momento. Só quando a construtora reúne o número mínimo exigido, que pode ser 60, 100, 150 famílias, é marcado um dia para que todas compareçam e assinem o contrato.
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