Os efeitos da crise financeira internacional sobre o setor imobiliário, segmento que reúne a construção, a venda e locação de imóveis novos e usados, além da administração de condomínios, são cada vez mais tênues, segundo indicam pesquisas e sondagem do Secovi-SP, o maior sindicato da habitação do Brasil, representante de 46 mil empresas do segmento imobiliário e condomínios do Estado de São Paulo.
Os indicadores mais recentes mostram uma flagrante recuperação no número de unidades habitacionais lançadas e comercializadas na cidade de São Paulo, depois do forte abalo provocado pela turbulência mundial. Em março último, foram comercializados na capital paulista 2.162 imóveis novos, contra os 1.556 de fevereiro e os 1.113 de janeiro. Movimento parecido foi verificado no volume de lançamentos. Dados da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp) indicam o lançamento em março no município paulistano de 1.561 unidades, ante as 1.211 de fevereiro e as 382 do primeiro mês do ano.
“O mercado imobiliário agiu como todos os demais agentes econômicos. Retraiu fortemente suas atividades para avaliar o que ocorria na economia, e isso fica muito claro pelo volume de lançamentos residenciais”, analisa Celso Petrucci, economista-chefe e diretor executivo do Secovi-SP. A reversão do quadro não tardou, na opinião do especialista, por causa dos bons fundamentos da economia. “Uma situação que combina estabilidade de preços, taxas de juros se aproximando de um dígito, menor desemprego em relação a outros países e reservas internacionais da ordem de US$ 200 bilhões proporciona melhores condições para a travessia da crise”, justifica.
A vantagem brasileira em relação a outros mercados explica por que, não obstante a queda brusca dos negócios logo após a eclosão da crise, alguns segmentos, como a construção civil, exibem resultados positivos no primeiro trimestre deste ano. O consumo de cimento no período, de 4 mil toneladas/mês, é o mesmo observado em 2008, indicam dados do SindusCon-SP, o sindicato paulista da construção. De acordo com o Caged, do Ministério do Trabalho, a atividade da construção civil encerrou os quatro primeiros meses do ano com saldo positivo de 43,4 mil postos de trabalho formais.
Balanço do segmento de novos no 1º trimestre
Os lançamentos residenciais na cidade de São Paulo retraíram nos dois primeiros meses do ano, conforme dados da Embraesp. De fevereiro para março, percebeu-se incremento no volume de 1,2 mil para 1,6 mil unidades. O total lançado nos primeiros três meses do ano atingiu 3,2 mil moradias, contra 7 mil no período de janeiro a março de 2008. “É importante ressaltar, porém, que 2007 e 2008 foram anos atípicos, que registraram números excepcionais, muito superiores às médias históricas, o que tem levado o Secovi-SP a usar o exercício de 2006 como base de comparação. No primeiro trimestre daquele ano, o volume de lançamentos residenciais foi de 2,7 mil unidades, 13% abaixo do resultado dos três primeiros meses de 2009”, enfatiza Petrucci.
A comercialização de imóveis residenciais novos na cidade registrou importante reação no primeiro trimestre, como indica a Pesquisa Secovi do Mercado Imobiliário (PMI). O total de unidades vendidas ultrapassou a marca de 4,8 mil unidades. Apesar de aquém em relação aos resultados obtidos em idêntico período do ano passado, de 8,5 mil moradias, uma breve sondagem realizada recentemente junto a associados do Sindicato constatou aceleração dos negócios. A percepção dos empresários entrevistados era de que seria possível fechar o mês de abril com 20% a 25% mais unidades vendidas.
Vale ressaltar, também, que no primeiro trimestre o volume de vendas (4.831 moradias) foi superior ao número de lançamentos (3.154), o que se reflete no saldo de imóveis disponíveis. “Essa tendência já vinha sendo observada desde fevereiro e aumenta a percepção de que o crescimento de estoque registrado nos últimos meses de 2008 começa a ser compensado com as vendas deste ano”, comenta Alberto Du Plessis Filho, vice-presidente de Tecnologia e Relações de Mercado do Secovi-SP.
A expectativa é de que o fechamento de negócios no segmento de novos mantenha parte do vigor observado em 2008, em função principalmente da grande disponibilidade de recursos e do programa “Minha Casa, Minha Vida”, anunciado em março pelo governo federal. “Graças à melhoria nas condições de compra (alongamento de prazos, redução de taxas de juros), aliada aos recursos abundantes e, principalmente, à ascensão das classes C e D, houve um incremento considerável de recursos disponíveis para a atividade imobiliária em 2008”, afirma Du Plessis. O volume de aplicações das cadernetas de poupança, que era de R$ 3 bilhões em 2004, subiu para a casa de R$ 30 bilhões em 2008. Para este ano, a perspectiva é de que gire em torno de R$ 28 bilhões.
Os reflexos do programa governamental de estímulo à construção de imóveis para a população de baixa renda se fizeram sentir desde o seu lançamento. “O anúncio beneficiou o setor, além do público-alvo. A permanência do tema na mídia por vários dias alavancou a movimentação nos plantões de vendas e colaborou para a efetivação de negócios. Outro fato relevante para o mercado imobiliário será a realização do 5º Feirão da Caixa”, diz o vice-presidente do Secovi-SP. Até em função do reforço representado pelo plano governamental e pela iniciativa do banco, a estimativa é de que sejam lançados este ano na cidade de São Paulo 28 mil unidades e comercializadas 29 mil unidades. O ritmo de vendas, medido pelo indicador Vendas sobre Oferta (VSO), deve encerrar 2009 na casa dos 12%, contra os 10,6% de 2007 e os 13,9% de 2008. No primeiro trimestre, esse indicador atingiu a média de 8%, em linha com os 8,1% de 2006.
Mercado de locação residencial
Quanto ao mercado de locação residencial, persiste o problema da escassez de oferta de imóveis para alugar e, por isso, o valor médio dos aluguéis na cidade de São Paulo registrou aumentos superiores a 12% no primeiro trimestre de 2009.
Devido a esse panorama de demanda superior à oferta, um imóvel em bom estado de conservação e localização registrou, nos três primeiros meses do ano, Índice de Velocidade de Locação (IVL) próximo a 11 dias. No mesmo período do ano passado, o IVL (tempo que o imóvel demorava para ser alugado) era de 12 dias e, em 2004 e 2005, esse índice ultrapassava os 30 dias.
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